Crise Lula x Israel se acirra e gera impasse diplomático
21 de fevereiro de 2024Foto: ReproduçãoPor: Walter Azzolini | 21/02/2024 11:43
A crise diplomática aberta entre Brasil e Israel — que teve início após comentário de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra que atinge o Oriente Médio — segue sem sinais de arrefecer. De um lado, o governo israelense exige uma retratação do presidente da República. Do outro, Lula não indica recuo.
O imbróglio teve início no último domingo (18/2), após Lula comparar a guerra entre Israel e o Hamas ao Holocausto. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, declarou em coletiva de imprensa ao encerrar o giro pela África.
Na ocasião, o chanceler de Israel condenou as falas de Lula e, em hebraico, o declarou “persona non grata”. A situação, considerada humilhante para o embaixador, teve uma repercussão ruim no Brasil e levou Mauro Vieira a convocar Meyer de volta. Em reunião com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, o ministro das relações exteriores brasileiro demonstrou incômodo à reprimenda.
Como mostrou a coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, Vieira afirmou, nesta terça-feira (20/2), que Israel vive uma “página triste na diplomacia”. “Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante”, considerou.
“Estou seguro de que a atitude do governo Netanyahu e sua antidiplomacia não refletem o sentimento da sua população. O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu. Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim”, disse.
Pressões a Lula
Também nesta terça, o ministro das Relações Exteriores de Israel voltou a cobrar um pedido de desculpas de Lula. No X (antigo Twitter), o chanceler publicou um texto em português em que questiona Lula como “ousa comparar Israel a Hitler”.
“Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”, disparou. “Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então continuará sendo persona non grata em Israel.”
As pressões por uma retratação de Lula vêm também da cena política nacional. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a fala foi equivocada e afirmou ser adequada uma retratação.
Outra medida partiu de mais de uma centena de parlamentares — alguns deles da base aliada do governo — que reuniram assinaturas para um pedido de impeachment contra Lula em razão da comparação entre a ação de Israel na Palestina com o Holocausto. Os congressistas acusam o presidente de crime de responsabilidade.
Por outro lado, no Senado, o senador Omar Aziz (PSD-AM), que é filho de palestino, saiu em defesa de Lula. Ele disse que a relação que o presidente fez com o Holocausto foi incorreta, mas cobrou que o Senado Federal se posicione sobre as milhares de mortes de palestinos que estão ocorrendo por ação de Israel na Faixa de Gaza. (Metropoles)