PM preso após confronto fatal é suspeito de abastecer Presídio Militar com droga
25 de julho de 2024Sargento entrou com mochila “recheada” na unidade para militares 2 dias antes de ser pego, diz denúncia
Dois dias antes de ser flagrado participando do sequestro de carga de maconha que acabou em confronto e morte, o 2º-sargento Laércio Alves dos Santos assumiu “normalmente” o plantão como vigia no Presídio Militar Estadual de Campo Grande, unidade do Complexo Penal do Jardim Noroeste destinada a presos militares. Na mochila que carregou para dentro da penitenciária, contudo, ele levava celulares, um play station 2, outros eletrônicos e até drogas, “encomendas” feitas por colegas de profissão confinados no local.
A informação de que o PM era o “fornecedor” de ilícitos da unidade chegou à Corregedoria-Geral da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) por denúncia anônima e foi o que motivou a transferência do sargento para a Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira I, conhecida como “Supermáxima” por ter regime mais rígido.
Para confirmar a veracidade da denúncia, no dia 23 de junho, um dia após a prisão do sargento, pente-fino foi feito no Presídio Militar e uma mochila foi encontrada no local contendo 18 celulares e carregadores e pacotes de entorpecentes, além de outros eletrônicos, seringas, agulhas e medicações. Uma das hipóteses da investigação é que os objetos não distribuídos entres os PMs presos eram destinados a presos do Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, o presídio de segurança máxima do complexo, que fica ao lado da unidade para militares.
A remoção de Santos da unidade destinada a PMs foi ordenada pelo juiz Alexandre Antunes da Silva, da Auditoria Militar, nos autos em que foi deferida também a quebra do sigilo telefônico dele e de colegas que teriam recebido as encomendas. Dentre eles está Marcelo Rossotti dos Santos, de 53 anos, sargento aposentado da Brigada Militar de Passo Fundo (RS), preso com 100 quilos de maconha em Amambai, e dupla de policiais de Mato Grosso do Sul, os cabos Diego do Amaral e Heitor Henrique Costa Balbino, acusados de extorquir contrabandistas.
Conforme registrado na decisão, “há indícios de que ele integre organização criminosa e que teria introduzido entorpecentes e aparelhos celulares no mencionado estabelecimento prisional”. Por isso, “há justa causa” para as quebras de sigilo e para a transferência.
Ele ainda ressaltou que a investigação da Corregedoria da PM envolve crimes de “natureza gravíssima” e é preciso dar suporte. Veja:
Outro lado – O advogado Marcos Ivan Silva, que defende o sargento Santos, afirma que não existem provas contra o cliente, “até porque foram fatos feitos por uma denúncia anônima ao Comando e até então, outra parte supostamente envolvida nisso está foragida”. “Nós entendemos que é incabível a investigação e com certeza, meu cliente não vai ser denunciado por isso”.
Quando menciona fuga, Marcos Ivan refere-se a Alex Carlos Oliveira, que conseguiu escapar do Presídio Militar no dia da revista.
Envolvimento com o tráfico – Laércio Santos foi preso durante ação do Batalhão de Choque que terminou com o cabo do 10º Batalhão da Polícia Militar, Almir Figueiredo Barros Junior, morto em confronto. Os dois são apontados como integrantes de uma quadrilha de traficantes, que sequestrou motorista de um caminhão para roubar 90 quilos de maconha no dia 22 de junho, tarde de uma sexta-feira, em Campo Grande. O plano, descoberto pela Inteligência da Polícia Militar, terminou em troca de tiros e duas mortes.
Os fatos ocorreram depois que o Batalhão de Choque recebeu informação de que um caminhão com droga acessaria a Capital através da BR-262 e a carga seria roubada por um grupo rival. Então, militares da Inteligência se posicionaram na região do Indubrasil para vigiar os suspeitos e viram a aproximação de um caminhão azul, sendo seguido de perto por um Toyota Corolla.
Na Rua Barra dos Bugres, os ocupantes do carro sinalizaram para que o motorista do caminhão parasse, o que foi feito. Na sequência, o condutor foi retirado do caminhão e colocado em um automóvel sedan branco. Então, o veículo de carga seguiu conduzido por outra pessoa e escoltado pelo Corolla.
Segundo o boletim de ocorrência, caminhão e Toyota seguiram até uma chácara na Rua Cláudio Augusto, na Vila Romana. Lá, cinco suspeitos passaram a cortar a lataria do veículo de carga e foi o momento que o Choque decidiu abordá-los.
Contudo, todos correram para a vegetação ao redor. Dois deles foram cercados e, de acordo com o Choque, resistiram com armas de fogo. “Que não restou alternativas aos policiais, se não o também emprego de armas de fogo para neutralizar a injusta agressão desencadeada pelos marginais”, diz o registrado em boletim de ocorrência.
Os dois foram socorridos em estado grave e morreram antes de chegar na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Santa Mônica. Eles foram identificados como Jorcinei Junior Sabia Gil da Silva e o cabo da PM, Almir Figueiredo. Duas armas de fogo foram apreendidas com eles.
O sargento Santos foi surpreendido próximo a BR-262 e acabou preso. Ele é o dono do Corolla que escoltou o caminhão. O resto do bando conseguiu fugir.
Réu em ação penal – O policial militar optou pelo silêncio em solo policial. Acompanhado do advogado Marcos Ivan, na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Cepol (Centro Especializado de Polícia Integrada), não respondeu às perguntas do delegado Lucas Caires. Disse somente ser casado, ter três filhos menores e vestir a farda militar há duas décadas.
Na ficha de antecedentes, o PM tem passagens por falsificação de documento público, abuso de autoridade e trocar socos com outro militar durante briga de trânsito. Já cumpriu todas as condenações.
O advogado do PM afirma que também não há provas do envolvimento do cliente com o tráfico. Ele foi denunciado por associação para o tráfico no dia 19 deste mês e a denúncia foi recebida na segunda-feira, dia 22.
“Ele não foi pego com droga nenhuma, simplesmente o veículo dele estava lá no local dos fatos, não é? E por ele ser policial, ele pode demonstrar com tranquilidade o que ele estava fazendo lá. Com certeza nós vamos demonstrar nos autos”, afirma Marcos Ivan.
– CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS