No G20, Haddad pede colaboração para que bilionários deixem de aproveitar os ‘buracos tributários’
29 de fevereiro de 2024Fernando Haddad, ministro da Fazenda, discursa na abertura do segundo dia de trabalhos do G20, em São Paulo — Foto: Diogo Zacarias/MFPor: Walter Azzolini | 29/02/2024 11:56
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (29) que soluções efetivas para que os super-ricos paguem sua justa contribuição em impostos “dependem de contribuição internacional”. Haddad discursou presencialmente no segundo dia de trabalhos da Trilha de Finanças do G20, após se curar da Covid-19.
Segundo o ministro, os países do grupo precisam trabalhar em conjunto para completar a agenda de tributação global “de maneira equilibrada” e garantir as negociações do Pilar 1. (entenda mais abaixo)
“Se unirmos esforços […] poderemos continuar avançando e diminuir oportunidades para que um pequeno número de bilionários não continue tirando proveito de buracos no nosso sistema tributário para não pagar sua justa contribuição”, afirmou.
O Pilar 1 é parte de agenda de cooperação tributária internacional que já está em discussão na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O acordo da organização, denominado Imposto Mínimo Global prevê dois pilares. O primeiro é voltado para distribuir os direitos de tributação internacional entre os países, enquanto o segundo estabelece o recolhimento de pelo menos 15% do imposto sobre a renda de grupos multinacionais que possuam um volume de negócios global anual superior a 750 milhões de euros.
Haddad ainda citou um relatório recente feito pelo EU Tax Observatory sobre evasão fiscal. Segundo o estudo, bilionários pagam uma alíquota efetiva de impostos equivalente a algo entre 0% e 0,5% de sua riqueza.
“Eu sinceramente me pergunto como nós, Ministros da Fazenda do G20, permitimos que uma situação como essa continue. Se agirmos juntos, nós temos a capacidade de fazer com que esses poucos indivíduos deem sua contribuição para nossas sociedades e para o desenvolvimento sustentável do planeta”, afirmou o ministro, reiterando que a taxação de bilionários pode ser o terceiro pilar da cooperação tributária internacional.
A convite de Haddad, o professor Gabriel Zucman, especialista em tributação, participa da reunião, fechada à imprensa, para apresentar uma proposta de tributação dos super-ricos.
O ministro da Fazenda brasileiro ainda fez um “chamado” para que a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) trabalhem juntas, unindo a “legitimidade e a força política da primeira à capacidade técnica da segunda”.
Segundo Haddad, a presidência do Brasil no G20 buscará construir uma declaração em conjunto dos países do grupo sobre tributação internacional até a reunião ministerial prevista para julho.
O ministro da Fazenda ainda participou, nesta quinta-feira (29), de uma reunião bilateral com o ministro de Economia e Finanças da França, Bruno Le Maire. O encontro foi fechado à imprensa.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, discursa na abertura do segundo dia de trabalhos do G20, em São Paulo — Foto: Diogo Zacarias/MF
Recuperado do Covid-19
Esse foi o primeiro dia em que o ministro pôde comparecer presencialmente às agendas. Estas são as últimas reuniões entre ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais de diversos lugares do mundo.
Haddad havia sido diagnosticado com Covid-19 na última segunda-feira (26) e vinha, desde então, cumprindo as agendas de reuniões do G20 de maneira virtual. Na noite de quarta-feira (28) e na manhã desta quinta (29), ele realizou novos testes, que deram negativo. (g1)