Papa deseja ver Putin; Rússia diz ter destruído armas dos EUA na Ucrânia
3 de maio de 2022O papa Francisco disse que tem disposição para ir a Moscou e conversar com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre a guerra promovida pela Rússia em território ucraniano, e descarta uma ida à Ucrânia neste momento. “Não vou agora a Kiev”, disse, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, publicada hoje, lembrando ter enviado representantes à Ucrânia —no mês passado, o governo ucraniano pediu que Francisco fosse a Kiev. “Mas sinto que não preciso ir. Primeiro tenho que ir a Moscou, primeiro tenho que encontrar Putin.” Hoje, a invasão russa chegou ao 69º dia com o exército de Putin mantendo a ofensiva. A Rússia disse ter atacado um depósito com armas enviadas pelos Estados Unidos e por países europeus em Odessa, sul da Ucrânia.
Na entrevista, Francisco disse querer “fazer um gesto claro para o mundo inteiro ver”. “E, por isso, fui ao embaixador russo. Pedi que explicassem. Eu disse: ‘por favor, parem’. Então pedi ao Cardeal Parolin [secretário de Estado do Vaticano], depois de vinte dias de guerra, que enviasse a Putin a mensagem de que eu estava disposto a ir a Moscou”, completou. “Claro, era necessário que o líder do Kremlin permitisse algumas janelas. Ainda não recebemos uma resposta e continuamos insistindo, mesmo que eu tema que Putin não possa e não queira ter este encontro agora. Mas, tanta brutalidade, como não parar?”
Francisco lembrou que, em março, conversou com o Patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, por videochamada. “Falei com Kirill durante 40 minutos. Os vinte primeiros, com um cartão na mão, ele me leu todas as justificativas para a guerra”, lembrou. “Eu escutei e disse a ele: eu não entendo nada disso. Irmão, não somos clérigos de Estado, não podemos usar a linguagem da política, mas a de Jesus. Somos pastores do mesmo povo santo de Deus. Para isso devemos buscar caminhos de paz, para acabar com o fogo de armas”. Na opinião do papa, Kirill “não pode se transformar no coroinha de Putin”. “Não se pode pensar que um Estado livre possa fazer guerra a outro Estado livre. Na Ucrânia, foram os outros que criaram o conflito”, comentou o papa. Francisco ainda observou que “não há vontade suficiente para a paz”. “A guerra é terrível e devemos gritar”, disse. “Estou pessimista, mas devemos fazer todos os gestos possíveis para parar a guerra.”
Fonte: Do UOL, em São Paulo 03/05/2022 05h20Atualizada em 03/05/2022 08h02